Desabafos de Marvão

O convite de um amigo para desabafar na Rádio Portalegre, todas as quartas, às 7.30h, 10.30h, 13.30h, 17.30h, 23.30h, levou-me também a criar um espaço, na blogosfera, onde possam ficar registados os textos da versão radiofónica. Espero que gostem e já agora, se não for pedir muito, que vos dê que pensar. Um abraço...

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Localização: Marvão, Alentejo, Portugal

Um rapazinho de Marvão

quarta-feira, abril 18, 2007

29º Desabafo – 18 de Abril de 2007 – “A maior das maravilhas”


O castelo de Marvão é um dos 21 candidatos às 7 maravilhas de Portugal.

E se à primeira vista este é um tema cujo interesse poderia para muitos ser confinado às fronteiras limítrofes da realidade concelhia, o caso muda de figura se constatarmos que de todas as imensas riquezas patrimoniais, culturais e naturais do distrito de Portalegre, o castelo de Marvão é a única a concurso.

Partindo daqui e da pertinência do assunto, gostava de partilhar convosco alguns dados, algumas revelações e um ou outro pensamento sobre a temática.

Na Antiguidade Clássica, longo período da história da humanidade situado entre o século VIII a.c. e o século V d.c., foram erguidas as chamadas sete maravilhas do mundo antigo, um importante conjunto de obras arquitectónicas e artísticas que testemunhavam a magnitude do trabalho e do espírito humano. Entre elas constavam as Pirâmides de Gizé, a mais antiga de todas as obras e a única que resistiu até aos nossos dias; os Jardins Suspensos da Babilónia, em que o mito e a fábula da sua verdadeira existência nunca se dissiparam ao longo dos tempos; a Estátua de Zeus, construída em ouro e marfim e adornada com pedras preciosas em Olímpia; o Templo de Artémis, em Éfeso, actual Turquia, dedicado à deusa grega da caça e dos animais selvagens; o Mausoléu de Halicarnasso, também um sumptuoso monumento fúnebre; o Colosso de Rodes, uma gigantesca estátua de 30 metros de altura e setenta toneladas de bronze dedicada ao deus grego Hélios, e o Farol de Alexandria, uma torre de mármore situada na ilha de Faros, no Egipto, destruída por um terramoto e cujos restos foram recentemente encontrados por mergulhadores depois de confirmados via satélite.

A coisa manteve-se durante séculos até que no ido ano de 1999, o suíço Bernard Weber, de 55 anos, um multimilionário dado a excentricidades que já foi director de museus, cineasta, piloto de aviões e cidadão do mundo que viajou pelos cinco continentes, decidiu meter mãos à obra para a criação de uma votação global destinada a escolher os novos sete monumentos símbolo do planeta para o futuro.

Visitou a Unesco, pegou na lista do Património Mundial, um índice do legado cultural e natural do mundo inteiro, e dos 644 sítios elegeu 17. Depois e com recurso já à Fundação da Novas 7 Maravilhas, colocou a votação na Internet e pediu aos utilizadores do mundo inteiro que sugerissem outros edifícios que tivessem sido construídos pelo homem antes de 2000 e reflectissem a identidade do seu país. Daí resultaram perto de 200 monumentos apurados que foram reduzidos por um painel de famosos arquitectos aos 21 que constam da eleição e onde pontuam, por exemplo, a Acrópole de Atenas, a Alhambra de Granada, o Coliseu de Roma, o Cristo Redentor do Brasil, a Estátua da Liberdade de Nova Iorque, a Grande Muralha da China, as ruínas de Petra na Jordânia, o Taj Mahal da Índia ou a famosa Torre Eiffel de Paris.

Até 7 do 7 de 2007, qualquer cidadão do nosso planeta com acesso à Internet pode aceder ao sítio das 7 maravilhas, facilmente detectável através de um motor de busca e escolher quais são para si as 7 maravilhas à escala mundial que devem ser eleitas, colaborando assim no primeiro grande voto global para a escolha dos novos ex-libris da humanidade. O resultado será registado num cd de ouro que será enviado para o espaço e quem poderá algum dia saber qual o efeito que irá surtir…

E o que é que Portugal e Marvão têm a ver com toda esta história, perguntarão certamente alguns e com razão? Ora bem, se olharmos atentamente para um planisfério, Portugal, e mais concretamente a cidade de Lisboa, situam-se praticamente no centro, o que convém à visão unificadora que está na base da votação. Para escolher as novas jóias, nada melhor que o centro do mundo tal como o vemos nesta perspectiva. O facto de a cerimónia final ter lugar na Catedral da Luz já e uma verdade que me desculparão certamente por não comentar, evitando assim “bocas” que se antevêem menos simpáticos de alguns rivais clubísticos mas se me permitem, a escolha do local parece-me da maior justeza e nobreza e mais do que adequada ao nível dos melhores do mundo.

Mas bem, avancemos, como diz o outro. Temos pois que a 07.07.07, o mundo inteiro estará de olhos postos no Estádio da Luz para assistir à cerimónia que se antevê como a arrebatadora de todos os records de audiência televisiva de sempre. A coisa promete!

Assim que se aperceberam de todo este andamento, algumas empresas lusas ligadas à produção de eventos e ao mundo da publicidade colocaram as cabecitas a trabalhar na busca daquilo que é o objectivo último do seu trabalho: fazer dinheiro e gerar riqueza. E daqui saiu a brilhante ideia do: “espera lá, pá… se estes gajos vêm cá para o nosso país escolher as novas maravilhas do mundo, se está tudo em cima, se a coisa gera milhões, se não há nenhum ilustre representante português na nova elite, porque não escolhermos nós as 7 maravilhas de Portugal?” Igualmente simples e brilhante, não concordam? Esta vistosa manifestação do melhor espírito portuguesito de aproveitamento, justificada pela constatação académica que “copiar por quem faz bem não merece má nota” deu um estardalhaço que nem vos digo nem vos conto.

O método não foi preciso inventar porque, claro está, estava já tudo inventado! Pegaram-se nos 793 monumentos classificados pelo IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico); juntaram-se 7 peritos que seleccionaram 77 monumentos (a ideia do número 7 fica sempre bem!); e depois, um Conselho de Notáveis convidados pelas duas empresas promotoras, entre os quais contam historiadores, políticos, actores, sociólogos, gestores, jornalistas, cientistas e tudo o que melhor se pode esperar, escolheram os 21 monumentos finalistas que serão submetidos a votação.

Tiveram até o cuidado, para que a coisa não descambasse em balelas, de convidar o inquestionável e mais que intocável Prof. Freitas do Amaral para encabeçar o processo.

Nos 21 finalistas encontramos os inevitáveis como os Jerónimos; a Torre de Belém; os Palácios Nacionais da Pena e de Queluz; o castelo de Óbidos; o mosteiro da Batalha; o Convento de Cristo em Tomar; o Templo de Diana e a Torre dos Clérigos; os prováveis como as ruínas de Conímbriga, Castelo de Guimarães e Mosteiro de Alcobaça, e os outsiders, os que correm por fora como o Palácio Ducal de Vila Viçosa, as fortificações de Monsaraz e o Castelo de Marvão.

Mas, meus amigos, não tenhamos ilusões: trata-se de um negócio, de algo que foi feito para valorizar mas também para gerar dinheiro e nestas coisas como disse um dia e muito bem um notável colaborador meu e da minha autarquia, “trata-se de uma eleição em que Marvão é um partido pequeno, sem militantes, que nem dinheiro tem para bonés”. Não quero eu dizer com isto que Marvão não possa porventura vir a ser votado. Oxalá assim fosse! Mas o que me parece é que a votação é desleal.

É desleal porque nem todas as autarquias às quais tentam extorquir dinheiro para promoção (não esqueçamos que a imagem do concurso tem dono e direitos!) têm a mesma disponibilidade para enterrar milhares de contos nesta história, em bandeirolas e balões de ar quente, em mesas de voto electrónicas e páginas de publicidade nos grandes meios.

É desleal porque a forma de votação realizada sobretudo pelo único meio disponibilizado em meses, a internet, é elitista e favorece largamente as cidades e os meios desenvolvidos que têm outras facilidades no acesso às novas tecnologias.

É desleal porque ao colocarem a decisão nas mãos dos cidadãos favorecem obviamente as áreas mais populosas do litoral e das grande urbes. Não me vão jamais conseguir convencer que o concelho de Marvão com os seus pouco mais que 4 mil habitantes tem hipóteses quando comparado por exemplo com Guimarães que tem mais de 50 mil, já nem vou mais longe!

É desleal porque quem tem apetência para votar e entrar em força nestes concursos é um público-alvo muito específico, com ideias muito próprias que não representa em força o país (só assim se justifica que Salazar seja o maior português de sempre!)

É desleal porque quando se fazem galas e grandes espectáculos, os melhores sítios nas plateias vão sempre para os mesmos; os quadros representados pelos artistas são só de alguns locais; é desleal porque apesar de todos terem direito a cenários pagos por todos, apenas alguns ficam nas luzes da ribalta, frente aos melhores holofotes, nos melhores ângulos de ecrã e o MEU castelo querido lá escondido atrás e bem podia reclamar com a produtora que o resultado era o mesmo.

Mas não me interpretem mal! Não há nada mais triste que desculpas de mau pagador, que justificações para quem não sabe perder, porque não se trata disso! Trata-se apenas de, com a devida justiça, esclarecer e informar, aclarar e justificar o porquê das coisas que NUNCA acontecem sem explicação.

Apesar de tudo isto, apelo a todos os que me ouvem e que têm computador em casa, no trabalho, na escola, na casa do neto ou do vizinho, que vão, votem em Marvão e ajudem a fazer justiça.

E digo-vos mais… que seja qual for o resultado final, que EU: que regressado de uma viagem vislumbro orgulhoso no horizonte o castelo altaneiro de vigia no alto da escarpa íngreme; que passei muitas noites deslumbrado no miradouro da asa delta a contemplar o manto negro adornado com luzinhas a meus pés; que me maravilhei tantas vezes com o nevoeiro cerrado que me fazia sempre acreditar que estava num barco enorme a domar um mar gelado sem fim; que me arrepiei da guarita com o som da águia, o pio da coruja, o ladrar do cão ao longe; EU que como TANTOS que nasceram, se deliciam todos os dias com a vista da muralha e hão-de morrer naquele alto, que por muitas e infinitas maravilhas que haja no nosso país e no mundo até… nenhuma delas é tão linda como o meu Marvão.

2 Comments:

Blogger Jaime Miranda said...

Tal como carraça em pêlo de cão, cá estou em a aproveitar-me deste espaço para mandar saudades e postar umas sentenças sobre o que o amigo semanalmente vai escrevendo, e nós, religiosamente vamos lendo.
Se o tema é o lugar de Marvão no campeonato das sete maravilhas, há duas ou três que eu queria dizer. A primeira é que associo este concurso ao Modelo, que patrocina a emissão da TSF sobre o concurso, e que dá aos domingos de manhã. O programa tem a qualidade da TSF, o que quer dizer excelente nesta área de reportagem, e acho que calhou ouvi-los todos. Espero pela oportunidade de ouvir sobre Marvão e fico feliz por isso poder acontecer. Porque mesmo na rádio a nossa paisagem, e as nossas pessoas são bem retratadas e por isso, e porque o nosso promontório é uma das mais belas maravilhas do país e está mais alto do que qualquer outra a concurso, já ganhámos qualquer coisa. Por isto agradeço ao Modelo.
A segunda coisa que queria dizer é que há aqui um aliado em Coimbra que já apelou ao voto em Marvão no jornal. Não fui eu, que não tenho acesso a esses meios, foi o Dr. Mário Nunes, distinto Vereador da Cultura da Câmara de Coimbra e figura proeminente no estudo do Património da cidade. Acho que não é preciso agradecer-lhe, mas é bom ler estas coisas e saber que há muita gente que as lê.
Em terceiro e último, acho que não devemos dar credibilidade nenhuma aos resultados destes concursos, mas apercebo-me que os processos de incentivo à participação são bem montados. Aproveitando a excitação que se gera nas pessoas quando ouvem falar de concursos, e com uma a perspectiva muito global, de entretenimento e marketing modernaço à Santana Lopes, este tipo de comunicação é muito eficaz na área turística. Por isso pode ser bom. Já em termos de pedagógicos, de um conhecimento mais sério e comprometido com os lugares e o que representam, a coisa falha, na maior parte dos aspectos, por superficial. Acresce que tenho testemunhado um interesse muito relativo na competição tanto por parte das pessoas em Coimbra como em Figueiró dos Vinhos, o primeiro com monumento na lista, o que poderá significar que o resultado final poderá vir enviesado. No entanto, tendo em conta o que escrevi atrás, acho a iniciativa positiva, como também achei a da eleição do português mais importante. É sempre bom por as pessoas a pensar. Também temos de aceitar que seria uma distinção interessante se os resultados incluíssem o castelo de Marvão como uma das mais belas obras edificadas em Portugal, que chegou aos nossos dias. Mas haverá necessidade desse reconhecimento? Deixo a pergunta, mas todos sabemos a resposta.
Para rematar deixo votos de umas santas e boas Festas de S. Marcos, com juízo nas copas e respeito pelos touros e pela procissão. Este animal conta aí aparecer no dia do Santo, não para ser leiloado, mas para ver o pessoal de que sente falta e a quem quer dar aquele abraço.
Jaime Miranda.

2:22 da manhã  
Blogger Catarina said...

também eu considero Marvão a maior das maravilhas, E já votei, de todas as maneiras possíveis (com os mails pessoais, os do trabalho, mandei mails aos amigos a apelar ao voto, divulguei no blog), mesmo sabendo que...enfim...as hipóteses são poucas.

5:48 da tarde  

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